Tuesday, February 02, 2010

Pensamento em ação


Faz alguns anos que comecei a produzir um texto para dialogar com educadores sobre a profissão de cabeleireira. A formação dessa profissional acontece muitas vezes em cursos ou escolas especializadas. E há muito preconceito com relação ao saber dos profissionais de salões de beleza. No geral, educadores que nunca refletiram sobre a aprendizagem do trabalho pensam que profissões como a de cabeleireira exigem apenas domínio de certas técnicas. Os mesmos educadores não estão conscientes de que profissionais de salões de beleza dominam sofisticados processos de avaliação estética, de planejamento da ação , de negociação de significados, de modos de conversação, de correção de erros durante um processo etc. Tudo isso não precisa converter-se em disciplinas ou em competências isoladas. A técnica na sua integralidade reúne, além de aspectos observáveis de execução, muitas decisões e julgamentos que a cabeleireira vai fazendo enquanto corta os cabelos de sua cliente.
Meu texto ficou perdido entre as coisas que pensei em fazer e acabei não concluindo. Ontem achei o que havia escrito. O ponto de partida para meu texto é um capítulo do livro A Inteligência no Trabalho , de Mike Rose. Mas não fiquei apenas em comentários à obra de Rose. Acabei acrescentando observações do que aprendi em longos anos de convivência com educadores que formam profissionais de salões de beleza.
Inicialmente o que escrevi estava endereçado a educadores do campo de educação profissional e tecnológica. Ao reler o texto, achei que o mesmo pode ser uma boa provocação para reflexões de qualquer educador. Por isso resolvi divulgar meu velho escrito aqui no Aprendente. Espero que o mesmo provoque alguma reflexão e desejo de conhecer a obra de Mike Rose.

ARRUMANDO CABELOS

Jarbas Novelino Barato

A cabeleireira "pensa por meio da tesoura que tem nas mãos". Começo meu comentário sobre "Arrumando Cabelos", segundo capítulo de o Saber do Trabalho, livro de Mike Rose, com as palavras finais do referido texto. Tais palavras, a meu ver, sintetizam a preocupação de Rose em mostrar o trabalho como inteligência em ação, não separando saber e fazer, habilidade e conhecimento, prática e teoria.
Minha intenção aqui é a de apresentar o mencionado capítulo do livro de Rose como material merecedor da atenção de educadores que ou coordenam cursos de cabeleireiras ou são docentes em cursos que preparam estas profissionais dos salões de beleza. Tenho certeza de que os leitores vão encontrar em Rose uma apresentação sistemática de muitas coisas que já sabem. E, ao mesmo tempo, acho que as análises do autor vão abrir janelas para novos modos de ver os trabalhadores da área de beleza.
A idéia que ilumina a obra de Rose é a de que o trabalho manual, em todas as suas dimensões, é uma forma de desdobramento da inteligência humana. No caso específico das cabeleireiras, o autor procura mostrar que cuidar dos cabelos, nas ações concretas que dão vida ao exercício da profissão, exige saberes complexos nem sempre evidentes para observadores incapazes de ver o trabalho a partir dos olhos do trabalhador.
No capítulo em tela, Rose inicia suas análises tentando entender como os profissionais articulam diversos saberes na ação. Para isso, ele acompanha e dialoga com duas cabeleireiras cortando cabelo. Ele repara que a técnica de corte se articula com diagnósticos, percepção de expectativas do cliente, adequação da técnica a situações particulares de uma certa cliente, avaliação parcial dos resultados do processo em andamento. Tudo isso acontece numa dinâmica na qual perícia (competência técnica) articula-se com capacidades comunicativas capazes de sinalizar quais são os desejos da cliente.
Como vê a cena no palco americano, Rose procura mostrar alguns aspectos sócio-econômicos da profissão no país do Norte. São mais de 850 mil profissionais registrados. A grande maioria, 722 mil, é constituída por mulheres. A profissão, portanto, é predominantemente feminina. Isso pode ser resultado e fonte de preconceitos. A situação brasileira, apesar de particularidades de nossa história, deve guardar certa semelhança com a americana. É bom, portanto, não perder de vista as condições sócio-econômicas que levam muitas pessoas, particularmente as mulheres, a escolherem a profissão de cabeleireira.
Quem já se aproximou do cotidiano do trabalho de cabeleireiras sabe que as referências estéticas são fundamentais para o exercício da profissão. Rose aborda essa dimensão do trabalho de várias formas. A estética, além de refletir sensibilidade da profissional, é um item que exige negociação de significados entre desejos da cliente e perícia da cabeleireira. Geralmente o resultado final de um trabalho bem feito é consequência de uma trama - uma conversação - que vai definindo no processo o querer da cliente e as possibilidades de execução profissional. Mike Rose observa que há cabeleireiras que buscam resultados de acordo com seus gostos pessoais, sem levar em conta as expectativas das mulheres que as procuram, mas isso é um exceção.
No parágrafo anterior, mencionei a conversação como um componente importante para a definição do processo e resultado no trato com cabelos. Ao considerar esse aspecto, o autor vai mostrando toda uma riqueza de comunicação que faz parte do fazer-saber das profissionais estudadas. E tal comunicação vai além da negociação sobre resultado do serviço. Ela abrange também aspectos da vida pessoal das clientes, não apenas no nível da conversa sem compromisso, mas também no nível de interesses e problemas do cotidiano de ambas as conversantes.
Boas profissionais não dominam todas as técnicas de trabalho no campo de cuidados com os cabelos. Mas, quaisquer que sejam suas especialidades e preferências, elas executam com perícia um grande repertório de técnicas. Para observadores atentos, o balé das mãos da profissional, associado às ferrramentas, merece ser visto. Quase sempre se pensa que tais movimentos são automáticos. Mas, qualquer barreira ou diferença encontrada mostra que a profissional em sua fluência de movimentos tem consciência de seus gestos. Convém observar que a consciência dos gestos é uma necessidade na fase de aprendizagem. Todas as considerações de Rose sobre o domínio técnico [o balé das mãos] mostram que técnicas não são meras habilidades, mas um saber que se articula na ação com saberes de outras naturezas.
É preciso não ignorar as condições concretas de exercício da profissão. Em salões, profissionais iniciantes, e mesmo experientes, são muitas vezes exploradas. Além disso podem ser impedidas de executarem um repertório amplo de técnicas que dominam, ficando limitados a rotinas repetitivas. Tudo isso precisa ser considerado quando se fala em profissão, e Rose tem esse cuidado.
No caso americano, dada a legislação de exercício profissional de quase todos os estados do país, os salões requerem formação sistemática em escolas autorizadas. E em quase todo o país os profissionais passam por exame de ingresso na profissão, feitos ou por órgão de governo ou por sindicato da categoria. Por isso, a maioria das profissionais tem formação escolar específica. Mas, assim como os profissionais de nossa terra, elas sabem que precisam de atualização constante. E o autor analisa isso em todas as conversas com as cabeleireiras que entrevistou.

1 comment:

Benny said...

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