Friday, July 11, 2008

Avaliação contínua e qualitativa

Hoje, numa arrumação dos meus muitos guardados, encontrei uma prova de História da Educação, elaborada por uma insigne professora universitária. O material já tem uns oito anos e a fonte não pode mais ser identificada. Por isso posso divulgar aqui a mencionada prova. Copio integralmente a obra da referida professora:

Questões

  • 1ª) Qual o ideal educacional de Jesus Cristo?
  • 2ª) Qual a importância de Martinho Lutero?
  • 3ª) Quais as características dos séculos XVI e XVII?
  • 4ª) Comente o 1° livro do Emílio de Jean Jacques Rousseau.
  • 5ª) Como Froebel via as crianças de 0 a 7 anos de idade?
Acho que não preciso comentar os absurdos de tal instrumento de avaliação. Mas tenho de fazer algumas observações. Até cruzar com essa prova eu nunca tinha visto tanto destaque para o ideal educacional de Jesus Cristo. Aliás, com todo respeito que me merece JC, será que alguém pode me dizer que ideal era esse? As perguntas todas são bambas. Podem ser respondidas de mil maneiras distintas. E aí pergunto: quais seriam os critérios da professora que elaborou tal instrumento avaliativo? Gostaria muito de ver as respostas dos alunos.

Todas as cinco perguntas refletem um ambiente educacional marcado por reproduções de informação. Os alunos da professora avaliadora certamente não construíram qualquer conhecimento nos níveis de análise e síntese. Provavelmente saíram do curso sem qualquer compreensão das idéias educacionais de Froebel, Rousseau ou Lutero. Talvez tenham guardado por algum tempo certos rótulos que poderiam ser aplicados aos séculos XVI e XVII, mas certamente não tinham qualquer idéia do que foi o Alto Renascimento, os inícios da Era Moderna e os começos do Iluminismo. E a tal prova é um exemplo definitivo de que prova não prova nada.

O que mais me chateia num caso com esse é a explicação que a professora me daria. Ela provavelmente diria que sua prova era algo qualitativo, muito diferente do objetivismo característico de verificações de aprendizagem preocupadas com medidas. Diria mais. Diria que sua prova era apenas um pequeno detalhe num processo contínuo de avaliação. Em suma, o que me chateia é esse uso de grandes palavras, processo contínuo e avaliação qualitativa, para esconder inépcia, incapacidade de elaborar um instrumento razoavelmente digno.

Não tenho muito mais espaço para continuar meus comentários sobre a matéria. Quero apenas registrar meu desconforto com os rumos que tomaram as idéias sobre avaliação nos cursos de pedagogia. A maioria dos educadores malha sem dó a antiga perspectiva de Testes e Medidas em Educação, um conteúdo que considerava certos cuidados técnicos na elaboração de provas e outros instrumentos avaliativos. Hoje, a impressão que me fica é a de que os alunos de pedagogia aprendem apenas um discurso sobre avaliação, não modos de instrumentar essa dimensão importante do ato de educar. E pior: quando forem professores farão provas muito parecidas com o exemplo que acabo de desengavetar dos meus guardados.

1 comment:

Fátima Franco said...

olá,professor:
já fiz muitas provas como esta.
E acho qu ena hora ade avaliar não há dúvidas: o professor joga prá cima. Aquela que cair na mesa recebe um dez.
Estou te enviando um e-mail,ok?
Abs